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As inovações do Homem-Aranha do MCU (parte 1)

  • Foto do escritor: Marcelo Pedrozo
    Marcelo Pedrozo
  • 5 de dez. de 2021
  • 8 min de leitura

Primeira parte do texto sobre as inovações do Peter Parker do Universo Cinematográfico da Marvel (2008-) e as diferenças entre essa versão do personagem e aquelas mostradas nas franquias Spider-Man (2002-2007) e The Amazing Spider-Man (2012-2014).

Em 2016, apenas dois anos após o lançamento de The Amazing Spider-Man 2, a franquia do Homem-Aranha nos cinemas ganhou um reboot dentro do Universo Cinematográfico da Marvel, com a participação de Peter Parker em Captain America: Civil War. E, no ano seguinte, saiu o primeiro filme solo da nova versão do personagem, Spider-Man: Homecoming.


E um elemento, mais do que qualquer outro, marca essa versão: as inovações e liberdades tomadas ao se adaptar a história do Homem-Aranha. Afinal, essa era sua terceira adaptação em filmes live-action estadunidenses, em apenas quinze anos. A primeira foi a trilogia Spider-Man, dirigida por Sam Raimi com Tobey Maguire no papel de Peter, de 2002 a 2007. Depois, The Amazing Spider-Man contou com a direção de Marc Webb e Andrew Garfield como o protagonista, de 2012 a 2014. E, desde 2016, Tom Holland assumiu o papel, aparecendo em diversos filmes do MCU, com seus longas-metragens solo dirigidos por Jon Watts.


Com esses filmes sendo lançados tão perto um do outro, e com diferenças fundamentais entre as várias versões, existe uma grande – e extremamente chata – rivalidade na internet, com fãs brigando para ver quem é o melhor Homem-Aranha, defendendo seu ator favorito.

Daqui a pouco mais de uma semana, será lançado o terceiro filme solo do Homem-Aranha do MCU, Spider-Man: No Way Home, que contará com a participação de Tobey Maguire e Andrew Garfield como versões de Peter Parker de outras dimensões, como parte de um arco sobre multiverso. Assim, essa discussão de quem é o melhor Homem-Aranha está mais viva do que nunca.


Então, a internet vive cheia de gente chata dizendo, por exemplo, que o pessoal gosta dos filmes do Sam Raimi apenas por nostalgia, para invalidar a opinião das outras pessoas e ridicularizá-las por preferirem outra versão do Homem-Aranha. O que sinceramente é uma perda de tempo tão grande que eu acho bizarro como ainda acontece tanto. Até porque, na minha humilde opinião, as três adaptações têm elementos bons e ruins, e embora eu tenha a minha preferida, prefiro certos elementos específicos das outras, e no geral gosto bastante das três.


E outro dos argumentos na briga de quem é o melhor Homem-Aranha que eu acho irritante é o de desprezar o Peter do MCU pelas inovações que ele traz na história. Como eu já falei, diferenças em adaptações são sempre bem-vindas, ainda mais nesse caso, em que temos a terceira versão em live-action do personagem em quinze anos. Mas essas diferenças não agradam a todo mundo, e eu vou dizer que concordo com algumas das críticas, mas no geral, as inovações do Homem-Aranha do MCU dão um ar extremamente novo à história e ajudam a justificar essa adaptação nova, mantendo os elementos fundamentais mas explorando novos territórios e atualizando conceitos datados. Então este texto é sobre isso: sobre essas inovações, por que elas aconteceram, e por que muitas não são tão ruins como a internet pensa.


Então, primeiro vou falar sobre o Peter em si.

A caracterização de Peter e Mary Jane é meu problema número um com a trilogia do Sam Raimi. Os três filmes são ótimos (quer dizer, o terceiro é ruim, mas é meu preferido porque é tão ruim que é bom), mas mesmo nos dois primeiros – e, para falar a verdade, principalmente neles –, Peter e Mary Jane me incomodam demais.


Porque a dinâmica deles, e do Flash, segue 100% o estereótipo de filme de ensino médio estadunidense do nerd legal em quem ninguém presta atenção porque ele é nerd mas tem bom coração, do esportista cuja missão de vida é fazer bullying com esse nerd e que por algum motivo é popular, e da garota popular que não tem agência nenhuma na história a não ser ligar para o esportista popular no começo da história e para o nerd no final.


Esses arquétipos definem quem os personagens são nos filmes do Sam Raimi, e eles não fogem muito disso, só um pouco no terceiro filme. Peter é um estereótipo de nerd ambulante, com os óculos e o jeito esquisito e o bullying que sofre e a necessidade constante de soltar fatos aleatórios. Flash é o cara popular não sei como, porque ele bate em todo mundo o tempo todo e mesmo assim a escola toda gosta dele – incluindo a Mary Jane, que durante os dois primeiros longas só faz mudar de namorado de acordo com o que o enredo precisa, se afastando do Peter quando o roteiro precisa dele mal e decidindo ficar com ele quando é para ter um final feliz.


Isso resulta em uma personagem cujas ações não fazem o menor sentido e cujas únicas participações na trama são a) trair o maior número de namorados que conseguir e nunca ter que responder por isso e b) ser sequestrada pelos vilões para o Peter ser um herói.

Sério, ela flerta com o Peter E beija o Homem- Aranha enquanto está com o Harry... na mesma cena.

Depois pede um beijo do Peter mesmo noiva do filho do Jameson, e abandona ele no altar para ficar com o Peter...

E no terceiro filme, beija o Harry enquanto está com o Peter... pelo menos aqui é a primeira vez em que ela se arrepende da traição, então é uma vitória.


Mary Jane não é uma personagem, ela é um dispositivo do enredo usado para dar felicidade ou tristeza ao Peter. Até existem resquícios de um arco legal para ela, com o pai abusivo sendo mencionado vez ou outra, e principalmente no terceiro filme em que ela tem de lidar com sua carreira desmoronando porque ela não é boa atriz (o que é um enredo ótimo aliás, especialmente porque geralmente os artistas nos filmes são sempre o maior talento do mundo, é interessante ver alguém que não é). Mas é só no 3 que ela tem algo a fazer além de ser sequestrada e trair namorados, e não é um enredo que teve muito espaço de qualquer maneira.


Ah, e a dicotomia do nerd sem amigos mas com coração de ouro e que ganha a garota popular no final do filme e do bully esportista popular que perde a garota por ser babaca (mesmo sendo babaca a história toda), que por alguma razão aparece em literalmente todo filme de ensino médio americano, é um arquétipo tão datado que já me fez ficar com dois pés atrás quando eu comecei a ver Spider-Man (ainda bem que o resto do filme é bom). Eu obviamente entendo que era outra época, mas a trilogia envelheceu muito mal nesse aspecto.


(Vou pular os filmes do Marc Webb porque eles mal se passam na escola, mas só passando para dizer que a Gwen Stacy de lá é uma boa personagem, e eu gosto da “redenção” do Flash depois da morte do tio Ben e da quase amizade dele com o Peter no final.)


Assim, quando chegamos aos filmes do Jon Watts, é ótimo ver que a história não parou no tempo, e que ela foi atualizada para os dias atuais, com valores dos dias atuais. Em vez de ser um esportista que faz bullying físico com o Peter, Flash é um garoto rico que só o zoa verbalmente. Ele é muito xingado na internet, mas eu adoro essa nova versão, que traz um tipo de bullying que condiz muito melhor com os dias atuais – já que a agressão física ainda existe, mas o bullying verbal/emocional faz mais sentido, e isso deixa a história menos maniqueísta. Não é como se chamar um grupo de gente pra gritar “Penis Parker” em uma festa fosse a mesma coisa que dar trinta socos na cara, mas é uma adaptação do elemento do bullying e do personagem do Flash que funciona muito bem.


A mesma coisa com os interesses amorosos. Inclusive, Liz, em Homecoming, me impressionou muito positivamente quando eu assisti por causa disso. Eu já sabia que o Peter eventualmente ficaria com a MJ interpretada pela Zendaya, então quando o vemos gostando da Liz eu achei que tinha entendido como a história se desenvolveria. Ela era a garota popular, então imaginei que esse sentimento seria algo colocado como superficial, que Peter deveria abandonar, e que ele não gostar mais dela no final (e gostar da MJ) seria sinal de que ele teria crescido como pessoa. Basicamente, eu achei que Liz seria mostrada como uma pessoa esnobe, como um arquétipo da patricinha popular em filme de ensino médio americano.

Mas... não. Não só Liz é uma pessoa genuinamente boa, ela realmente é popular e gosta de fazer festas e sair com os amigos, e também é inteligente – sendo a líder do time das olimpíadas acadêmicas e dedicada na escola no geral. Liz não é amiga de Peter no começo, mas sempre é gente boa com ele, e valoriza a inteligência dele também.


O que me permite acrescentar que o próprio Peter é um personagem muito melhor aqui. Ele não é um estereótipo de nerd ambulante sem individualidade e odiado por 95% da escola, mas que no final vai ter seu valor reconhecido pela garota popular, que verá que ele é bom de coração e que merece ficar com ela. Peter é um garoto inteligente, provavelmente o mais inteligente da turma, e que não tem muitos amigos, e que sofre bullying do Flash, mas em nenhum momento esses traços são exagerados ou estereotipados.


Inclusive, o romance dele com a Liz é ótimo por isso. Nesses arquétipos datados, a garota popular geralmente tinha que perceber que não devia ir atrás dos esportistas populares, e sim dos nerds quietos que sofrem bullying, porque eles que são pessoas boas, e que ela estava errada por namorar gente com atitude. O que é tipo pensamento de incel.


Mas em Homecoming, a única coisa que faltava para o Peter ficar com a Liz era... ele pedir. Ele só tinha que ter a confiança de chamá-la para o baile, porque mesmo sendo a “garota popular”, Liz vê o Peter como qualquer outro garoto, não existe uma discriminação por ele ser nerd. Então eu gosto disso como um contraexemplo dessa dinâmica, mostrando que o Peter não é um coitadinho injustiçado porque nenhuma garota nota ele, era só ele pedir que ela topava.

O romance do Peter com a MJ eu também acho interessante. A dinâmica dos dois em Far From Home é fofa, com os dois tendo que superar sua timidez e sua ansiedade social, e de novo fugindo de qualquer estereótipo. A Liz, apesar de já fugir desses arquétipos, ainda não era muito uma personagem própria, e sim um elemento do enredo, mas eu gosto que a MJ tem uma agência maior, ela não está lá só para ser sequestrada. MJ tem uma personalidade interessante e é legal ver o romance dela com o Peter se desenrolar.


Sobre a “substituição” do Harry Osborn pelo Ned como melhor amigo do Peter, eu sou bem neutro. É bom mesmo não ter o Harry logo de cara, porque a história dele virando o Duende Verde já foi feita duas vezes, então não precisamos disso de novo. Mas acho estranho o Ned ser basicamente uma cópia do amigo do Miles Morales.


E, para finalizar essa primeira parte, outro elemento que eu queria elogiar na dinâmica escolar do Peter do MCU é a representatividade maior que eles tentaram trazer. Geralmente a representatividade no MCU não é tão grande quanto o Kevin Feige faz parecer, mas quanto aos colegas de escola do Peter, é legal ver que dos seis principais, temos só outra branca além dele, com os outros tendo várias etnias diferentes. O que também é um jeito de adaptar a história aos dias de hoje (não que isso não tenha sido sempre importante, mas é hoje que mais discutimos).


Na parte 2 do texto, vou falar sobre a tia May, os temas da história e os vilões; e sobre as inovações das quais eu não sou muito fã.

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