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Daenerys e Cersei: quem era a Rainha Louca?

  • Foto do escritor: Marcelo Pedrozo
    Marcelo Pedrozo
  • 12 de ago. de 2022
  • 7 min de leitura

Análise dos paralelos feitos entre os personagens Aerys Targaryen, Daenerys Targaryen e Cersei Lannister na série Game of Thrones (2011-2018).

Uma semana antes da estreia de House of the Dragon, série spin-off de Game of Thrones focada na família Targaryen, ancestrais da personagem Daenerys, é um bom momento para fazer uma análise da representação da personagem e de sua família na série principal. Mais especificamente, é um bom momento para fazer uma análise da "loucura genética" que diziam que essa família carregava.


Desde o começo da série, e dos livros nos quais ela foi baseada, ouvimos sobre a história da família Targaryen, a qual costumava comandar o continente de Westeros, onde a trama se passa. Ouvimos de alguns personagens que "quando um Targaryen nasce, os deuses jogam uma moeda; um lado traz milagre e outro traz loucura". Essa tão dita loucura, que não é exatamente o melhor termo para descrever essa característica, é mencionada diversas vezes na série como sendo algo comum nos Targaryen.


Especialmente em Aerys, o chamado Rei Louco, que, quase duas décadas antes de a história começar, tentou incendiar a capital dos Sete Reinos de Westeros, Porto Real, como reação à rebelião que era formada contra ele. Aerys foi impedido pelo personagem Jaime Lannister, que era de sua Guarda Real e desejava proteger seu pai (que havia se juntado à rebelião e jurado de morte por Aerys) e todo o milhão de pessoas que vivia em Porto Real na época.


Apesar de seu ato heroico, Jaime não foi reconhecido por isso. Agora com o apelido de Regicida pelo resto da vida, ele teve de ser perdoado pelo novo rei, Robert Baratheon, por seu "crime". Robert Baratheon se casou com a irmã gêmea e amante de Jaime, Cersei Lannister, e nunca descobriu que os filhos que pensava ter tido com Cersei na verdade eram biologicamente de Jaime.

Com a rebelião tirando a família Targaryen do poder, os dois filhos pequenos de Aerys, Daenerys e Viserys, foram retirados para outro continente para continuarem vivos. Quando cresceu, Viserys vendeu a irmã em um casamento com o líder do povo Dothraki para conseguir seu apoio contra Robert Baratheon e retomar seu poder, mas os anos de abuso fizeram Daenerys e seu novo marido se livrarem dele antes que suas ambições pudessem ser realizadas. Daenerys então assumiu essa missão e passou oito temporadas com um objetivo: conquistar o Trono de Ferro e se tornar a Rainha dos Sete Reinos.


Durante todos esses episódios, uma preocupação pairava todos que se encontravam com Daenerys: a "loucura" dos Targaryen. Mas todos que a conheciam afirmavam que ela não tinha nada a ver com Aerys. Que o caráter dos dois era muito diferente e que ela nunca faria nada do que ele fez, que ela seria uma rainha muito melhor do que ele e que governaria os Sete Reinos de forma justa.


E não foi bem isso que aconteceu.


No penúltimo episódio da série, Daenerys finalmente consegue fazer com que Cersei, a atual governante dos reinos após a morte de Robert Baratheon e de seus filhos, se renda. Mas nem os sinos de rendição pararam sua fúria: na segunda pior cena da série, Daenerys para pra pensar por alguns segundos depois de os sinos tocarem e por alguma razão inexplicável decide mandar seu dragão queimar toda a cidade. Várias pessoas morrem ou ficam feridas quando a governante que prometeu ser justa e diferente de seu pai concluía seu objetivo final.

Sério, essa cena é muito ruim.


Isso leva ao assassinato de Daenerys por seu amante (e sobrinho), Jon Snow, que acreditava ser ela a mais nova ameaça dos Sete Reinos. Depois de sua morte, os nobres formam um conselho para decidir o futuro de Jon Snow e o destino dos Sete Reinos, na pior cena da série. Mas isso não importa.


A virada de Daenerys já foi discutida infinitas vezes na internet nos últimos três anos, e eu sinceramente não estou interessado em continuar essa conversa porque tudo que tinha que ser dito já foi. Só vou me limitar a falar que, sim, faltou construção, foi do nada, foi ridículo, concordo com tudo isso.


Mas, basicamente, esse momento representava um final trágico para a história de Daenerys, que havia jurado ser diferente de seu pai, mas também fora contagiada pela "loucura" de sua família e agora acabava concluindo o objetivo mais perverso de Aerys: queimar a cidade de Porto Real. Um paralelo nada escondido entre os dois personagens era estabelecido, e Daenerys era colocada pela série como a Rainha Louca, filha do Rei Louco.


E isso tem suas implicações. Podemos tirar dali a mensagem de que não importa o que você faça, seus genes importam mais do que qualquer coisa; que você não pode fugir de seu destino; que sua família sempre vai ter controle sobre você; que você não pode mudar quem você é; sei lá, várias coisas. E nenhuma delas eu pessoalmente acho muito interessante.


Mas aquela não era a primeira vez que um paralelo havia sido traçado entre o Rei Louco e outra personagem. Na sexta temporada especificamente, Cersei Lannister parecia estar sendo colocada pela série como a nova Rainha Louca.

Depois de ter ordenado a morte de Robert, Cersei viu seu filho Joffrey subir ao trono. Mas logo ele também acabou morrendo, e o filho mais novo de Cersei, Tommen, virou o rei. Na mesma época, sua outra filha, Myrcella, também foi assassinada, e Cersei ainda acabou passando meses presa pela Fé Militante, grupo que ela mesma havia apoiado para se livrar da nora Margaery.


Assim, em uma época muito tumultuada, era nítido que, a qualquer momento, Cersei iria reagir, botar aquela raiva toda para fora, explodir. A quinta temporada termina com ela tendo que caminhar nua por toda a cidade, humilhada por todos os habitantes, em sua Caminhada da Vergonha. Nos trailers da sexta temporada, ficava em evidência uma fala da personagem afirmando que escolhia a violência.


Uma expectativa grande foi colocada em torno do que Cersei faria para impedir seu julgamento pela Fé Militante, que se daria no último episódio da sexta temporada. Acompanhamos conversas dela e de seu lacaio sobre certos rumores, e no nono episódio, em uma trama completamente alheia à de Porto Real, os personagens Tyrion e Daenerys tiveram uma conversa convenientemente colocada ali pelos roteiristas da série sobre os objetivos de Aerys, o Rei Louco, de queimar a cidade, para relembrar o público e criar um paralelo com o que Cersei faria a seguir.


Então chega o décimo e último episódio da temporada, o dia do julgamento de Cersei. Em uma sequência impecável no que eu considero o melhor episódio da série toda, Cersei se arruma enquanto a Fé Militante faz outro julgamento antes do dela. Porém, ela parece não ter pressa de sair do palácio, e seu filho Tommen é impedido de deixar seu quarto. Os personagens notam a ausência de Cersei e alguns chegam a investigar, até que seus objetivos são revelados: a rainha-mãe havia colocado o estoque de fogo-vivo que Aerys planejava usar para queimar Porto Real embaixo do Septo de Baelor, onde estavam reunidos a Fé Militante e vários nobres da cidade. Assim, Cersei acabava de uma vez só com a Fé Militante e com outros de seus inimigos (incluindo sua nora Margery Tyrell) simplesmente explodindo todos eles.

Seu filho, Tommen, comete suicídio após a morte de sua esposa e Cersei assume o trono. Nas cenas finais da temporada, vemos o retorno de Jaime Lannister a Porto Real. Durante todos esses anos, o irmão e amante de Cersei foi obcecado por ela, tinha uma paixão doentia e sempre a defendia e fazia tudo por ela. Mas a cena em que ele chega e observa, chocado, a coroação de Cersei após a queima do septo prometia um confronto por vir. Afinal, Jaime havia desgraçado sua honra perante todos para salvar a cidade de ser queimada, para impedir os planos de Aerys... e ali estava a pessoa que ele mais amava completando aqueles planos.


Era uma história que prometia desenvolvimentos muito interessantes para ambos os personagens; havia teorias de que o arco dramático de Jaime se concluiria com ele finalmente se livrando desse amor tóxico por Cersei matando ela, assim como fez com Aerys, novamente salvando a cidade de ser queimada por um monarca "louco".


Mas não foi bem isso o que aconteceu. Jaime continua do lado de Cersei por mais uma temporada, e só decide abandoná-la quando ela se recusa a juntar forças com os exércitos inimigos para combater os Caminhantes Brancos. Ele então se junta a essa luta, inclusive se aliando a Daenerys; mas depois que tudo está resolvido, quando o exército dela vai invadir Porto Real e depor Cersei, Jaime decide voltar para ajudá-la, e os dois acabam morrendo juntos.


Por mais que Cersei tenha sido uma antagonista nas últimas temporadas da série, os paralelos entre ela e o Rei Louco pararam depois de ela explodir o Septo de Baelor. Jaime não pensa muito no que aconteceu, e essa ação não parece pesar muito em sua decisão de abandoná-la. Ela queimou todo mundo? Ele não liga muito, só vai trocar de lado quando for pra lutar contra os zumbis que querem causar o fim do mundo, e depois ele volta.

Mas pior que eu não acho o final deles ruim não.


Parece que a ideia de colocar Cersei como a nova contraparte de Aerys, a grande Rainha Louca do final da série, foi abandonada em favor de fazer isso com Daenerys. Não digo que mudaram de ideia no meio do caminho, porque pelo que dizem, os criadores já sabiam que aquele seria o final há muito tempo. Mas dá a impressão de uma mudança de rota sim, porque temos Daenerys se mostrando diferente do pai e Cersei como uma nova versão do Rei Louco, daí esquecem disso e no final Daenerys fica "louca" do nada.


E não queria dizer nada... mas as duas são basicamente as únicas governantes mulheres da série, o conflito final é entre os exércitos das duas... Não sei se é a melhor imagem do mundo ambas já terem sido taxadas de Rainha Louca em algum momento, ainda mais considerando o arquétipo já usado em demasia da mulher com poder que fica louca... Mas enfim.


Basicamente, o que eu queria questionar com esse texto é a falta de comprometimento da série em ambos esses paralelos. Usaram com Cersei um pouco, mas não foram pra frente com isso, abandonaram todas as consequências interessantes disso, sem se aprofundar na história que estavam contando. Depois usaram com a Daenerys bem no final da série, sem construção nenhuma e com uma implicação no mínimo questionável de "tava nos genes dela, óbvio que ela ia ser louca também".


A história da rebelião de Aerys, de Jaime se tornando o Regicida, é muito interessante e merecia ter um paralelo mais consistente e bem feito na trama do presente em Game of Thrones. Tanto o paralelo de Cersei quanto o de Daenerys poderiam ter funcionado, mas começaram com um, depois jogaram fora e pularam pro outro, deixando os dois pela metade e sem construção. E é uma pena, porque podia ter sido bem mais do que isso.

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