O soft reboot de Once Upon a Time
- Marcelo Pedrozo
- 16 de jul. de 2021
- 16 min de leitura
Uma defesa da sétima temporada de Once Upon a Time (2011-2018), que é odiada por muitos fãs, apesar de ser uma das melhores da série; e uma defesa do conceito de soft reboot em geral.

Hoje mesmo, pouco antes de eu começar a escrever esse texto, eu me deparei com um post no Instagram sobre séries que começaram boas e se perderam no caminho. Lá havia alguns exemplos óbvios, que eu nunca assisti então não posso concordar ou discordar, mas que eu já esperava por serem famosas: The Flash, Riverdale, Lost... E, enquanto eu via a lista, estava só procurando por uma série específica que eu tinha certeza que apareceria: Once Upon a Time. Sobre a qual eu já falei aqui algumas vezes.
É uma das minhas séries favoritas, e eu tenho um carinho imenso por ela. Ao mesmo tempo, vê-la na lista fez sentido porque, bem... não tem erro nenhum ali. Once Upon a Time realmente começou ótima, a primeira temporada é excelente. As seguintes... Eu ainda gosto delas, mas há uma clara queda na qualidade a partir do começo da segunda temporada, aliada a uma mudança no formato da série, sobre a qual eu falei nesse texto aqui.
Mas além da mudança no formato, a queda na qualidade consistiu em personagens que sumiam sem nenhuma explicação; elementos da história que eram mudados para caber no enredo atual, sem que fizessem sentido com o que veio antes; histórias completamente aleatórias e sem sentido; arcos de personagens que giravam em círculos; clara falta de coragem para sair do status quo; entre vários outros problemas. E isso tudo está presente desde a segunda temporada.
Mas se você perguntar às pessoas por que Once Upon a Time decaiu, por que a série estava naquela lista, essas pessoas vão, claro, mencionar alguns desses problemas que eu falei, mas com certeza vão também mencionar outro ponto: a sétima e última temporada da série. Vão dizer que o programa já estava com a qualidade baixa antes, e que a sétima temporada foi o seu pior ponto, foi alto intragável, piorou muito o que não achavam que poderia ser piorado. Que a série ainda era assistível antes, mas que decaiu inacreditavelmente no sétimo ano.
Mas a última temporada não é nada disso. A sétima temporada é a melhor de todas as seis temporadas finais. (Porque a primeira está em outro patamar, e não é comparável às outras seis.) E nesse texto eu vou discutir por quê – por que o sétimo ano é o melhor (na minha opinião, obviamente), e por que muitas pessoas não gostam dele.

Vamos a um breve histórico então. A série segue personagens de contos de fada amaldiçoados a viverem na Terra Sem Magia (o nosso mundo), mais precisamente na cidade de Storybrooke, Maine, uma cidade fechada onde eles estão presos no tempo. Nenhum deles envelhece e quase nenhum tem memórias de suas vidas passadas. Eles assumem novas identidades, como pessoas normais.
Antes da maldição surgir, Branca de Neve e o príncipe enviaram sua filha bebê, Emma, para o mundo real, salvando-a da maldição – eles fizeram isso seguindo uma profecia de que Emma quebraria a maldição, vinte e oito anos depois. E realmente aconteceu. Emma cresceu sozinha na Terra Sem Magia, sem saber de onde veio e tentando sempre descobrir quem eram seus pais. Nisso, ela tem um filho ainda adolescente, o menino Henry, que ela dá para adoção.
Henry é adotado por Regina, a prefeita de Storybrooke e a Rainha Má da Branca de Neve – a lançadora da maldição. Quando Henry completa dez anos, ele procura Emma e a traz para Storybrooke. Henry tem um livro que conta as histórias dos personagens, então ele já sabe que sua mãe biológica é a Salvadora, e a traz para quebrar a maldição.
No final da primeira temporada, Emma finalmente acredita nas histórias de Henry e quebra a maldição, devolvendo as memórias aos personagens e reencontrando sua família. A partir dali, como eu falei no outro texto sobre a série, Once Upon a Time abandona o formato de histórias realistas no presente + adaptações de contos de fada nos flashbacks, já que magia é trazida a Storybrooke, e os arcos tanto do presente quanto do passado passam a replicar enredos normais de fantasia, sem o aspecto realista que era tão bom na primeira temporada, ao contrastar com a magia dos flashbacks.

A segunda temporada começou forte mesmo com a mudança para um formato que fugia da proposta inicial, mas com o tempo acabou chegando em alguns enredos não exatamente brilhantes. E, a partir daí, a qualidade caiu, e se manteve baixa para o resto da série. Vieram os problemas que eu mencionei no começo do texto: cada arco não ligava em se manter coeso com o resto da série, com novos elementos sendo trazidos mesmo que não fizessem sentido; personagens agiam unicamente em função do enredo, mesmo sem uma construção para que tomassem tais ações; a história avançava a passos de tartaruga, com os únicos acontecimentos relevantes em temporadas inteiras sendo nascimentos de bebês; várias pontas soltas relevantes nunca eram fechadas; vilões mudavam de plano a cada episódio e nunca entendíamos bem o que eles estavam fazendo; os protagonistas se mostravam caricatos ao perdoarem seus antigos torturadores, ditadores, estupradores e assassinos de entes queridos; esses são alguns dos problemas que chegaram.
A primeira temporada foi bem planejada, e por isso teve um formato bem cuidado e um enredo bom. Mas a partir da segunda, esse planejamento não parecia existir mais, as decisões criativas davam a impressão de terem sido feitas às pressas e no calor do momento, com histórias que podiam até divertir, mas que tinham diversos furos de roteiro e personagens mal construídos.
Os contratos dos atores principais acabariam no final da sexta temporada, e nisso, Ginnifer Goodwin e Josh Dallas, que interpretaram Snow e David (Branca de Neve e o Príncipe Encantado) na série, decidiram sair do elenco para se dedicar à família e a novos projetos. Com isso, os criadores colocaram em prática uma ideia que já estava sendo pensada desde a quarta temporada, que eles chamaram de requel, uma mistura das palavras “reboot” – quando uma história é reiniciada – e “sequel” – sequência.
Assim, o final da sexta temporada foi o final da história que havia sido contada naqueles seis primeiros anos. Personagens antigos foram trazidos de volta ao longo daqueles episódios, e a vilã da metade final da temporada, a Black Fairy (Fada Negra), tinha todas as características de um “chefão final”: ela era a criadora da maldição que foi o pontapé inicial da série, era a mãe de um dos vilões principais, Rumplestiltskin, e foi revelado que o destino de Emma como Salvadora durante todo esse tempo foi derrotá-la, em um evento conhecido como... a “batalha final”. Que marcaria o fim da história contada no livro de Henry. O próprio episódio duplo final, The Final Battle Part 1 e Part 2, trouxe várias referências a outros momentos da série, dando à maioria dos personagens um momento para completarem seus arcos, e mostrando os finais felizes de todos no final.

Daí, a cena corta para alguém lendo um livro mostrando uma das cenas de finais felizes que acabamos de ver. É Lucy, uma garota de dez anos que bate na porta de um apartamento. Quem atende é um Henry adulto; Lucy se apresenta como sua filha e afirma que a família deles precisa de ajuda, em uma cena que faz um paralelo óbvio à cena do encontro de Emma e Henry na primeira temporada.
Assim, a sétima temporada reinventou a série. Alguns anos haviam se passado, Henry já estava adulto agora. Ele decidira deixar Storybrooke após a batalha final depois de ter encontrado novos livros de história na mansão de Merlin, livros que contavam versões diferentes dos contos de fada que eles conheciam. Descobria-se, então, que sua avó não era a única Branca de Neve que existia; assim como existem várias versões desse conto na vida real, na série várias pessoas diferentes em mundos diferentes viveram essa história.
Henry parte então para uma nova Floresta Encantada, onde conhece e se apaixona por uma nova versão da Cinderela. Durante uma aventura, ele pede a ajuda da família e parte deles vem de Storybrooke para ajudar; entre eles Regina, que acaba ficando no novo reino junto ao filho.
Anos depois, Henry e Ella têm agora uma filha de oito anos, Lucy, quando um grupo de vilões (vilãs, na verdade) lança uma nova Maldição das Trevas. Em vez de levar todos para Storybrooke, essa nova maldição leva os habitantes da Nova Floresta Encantada para um bairro criado pelo feitiço em Seattle: Hyperion Heights.
Assim como na primeira temporada, os personagens perdem as memórias de sua vida passada e assumem novas identidades, misturando-se às pessoas do mundo real. A premissa é igual à do começo da série, mas apesar disso a história não é repetitiva devido à adição dos vários novos personagens, que (em sua maioria) têm histórias originais e interessantes.

E, bem... daí, já dá para ver por que muitas pessoas não gostam dessa temporada. Com a grande troca de elenco que aconteceu, muitos dos personagens – e casais – preferidos dos fãs não estavam mais presentes na série. Apesar de ter vários retornos e uma premissa igual à da primeira temporada, a sétima se foca em enredos novos para personagens em sua maioria novos... e muita gente se irritou com isso.
Hoje mesmo, também no Instagram, vi alguém recomendando Once Upon a Time a outro usuário, mas avisando: “a série é ótima, mas a última temporada é horrível, o diretor babaca tirou todos os personagens”. A pessoa, além de xingar os criadores da série por uma decisão criativa, exemplifica bem a superficialidade de muitas críticas feitas especificamente à sétima temporada. Muita gente não liga para a qualidade da história, mas como seus personagens não estão mais ali e a trama quer tentar algo novo, "o diretor é um babaca que só faz coisa lixo!!!!!!!!!!".
Once Upon a Time tem um público infantil e adolescente muito grande, o que explica a quantidade dessas críticas, especialmente no quesito casais. Pessoas de todas as idades têm “shipps” (casais pelos quais os fãs torcem), mas a frequência é muito maior em crianças e adolescentes, e a importância que esses shipps têm na qualidade da obra para essas pessoas, também. Alguns fãs de Turma da Mônica Jovem que “shippavam” Mônica e Cebola queriam fazer um boicote à revista não porque achavam que a história estava ruim, mas sim porque, na época, Mônica estava namorando Do Contra.
Dois dos casais mais “shippados” de Once Upon a Time eram Emma e Hook, e Emma e Regina (o segundo nunca tendo acontecido na série, mas sendo um grande favorito dos fãs). Com a saída de Emma, nenhum dos dois casais estava mais ali, e considerando que esses “shipps” são um fator de grande importância para muitos dos fãs da série...
(Disclaimer: em nenhum momento eu quis generalizar, falar que todo adolescente é imaturo - não é como se eu fosse um idoso -, ou que shippar casais é algo imaturo, nada disso. O que eu acho imaturidade é ditar a qualidade de uma história por seu casal estar ou não junto no momento, e isso acaba acontecendo mais com o público adolescente, mas com certeza não só com ele. Fim do disclaimer.)

De qualquer maneira, muitos fãs não se importaram com como a história ia ser, mas sim unicamente com a saída de seus personagens e casais preferidos, e portanto decidiram odiar a sétima temporada, nunca lhe dando uma chance por causa das mudanças. E isso não faz nenhum sentido especialmente em uma série como Once Upon a Time, que é cheia de furos de roteiro e 400 problemas narrativos desde a segunda temporada, mas isso nunca foi importante... mas a saída do casalzinho foi.
Por isso eu acho de certa forma injusto recomendar a outras pessoas a série com esse aviso de que a sétima temporada é terrível, porque ele na maior parte das vezes se baseia em um critério infantil, e não na qualidade da história em si.
Eu entendo que todo mundo tem dificuldade com mudanças, em um contexto geral mesmo, e que queríamos que a história nunca deixasse de ser como a conhecemos. Comentei isso no texto sobre adaptações. Mas uma mudança por si só não é um problema. Uma mudança ruim pode ser, mas não por ter sido uma mudança, e sim por ter sido ruim. E garanto que várias pessoas que falam mal da sétima temporada xingam não a qualidade, mas o fato de ela ter tido mudanças... o que não é um defeito, mesmo que muitos acreditam que seja.
E essa discussão está intrinsecamente ligada ao conceito de soft reboot (reboot suave, em tradução livre). Que, deixando aqui o link para o artigo do TV Tropes, é basicamente um reboot, mas tecnicamente não é um. Muitas coisas são mudadas, novos personagens chegam, pode ter uma passagem de tempo, então parece que é um reboot, mas tecnicamente é no mesmo universo. E a sétima temporada de Once Upon a Time se encaixa nisso, é um soft reboot, ou uma requel, como chamado pelos criadores.

E acho que o conceito de soft reboot é algo controverso para muitas pessoas. Como eu falei, tirar personagens, trocar de cenário, trazer algo novo causa um desconforto porque somos adversos a mudanças. E sentimos que nossas histórias têm que continuar como sempre foram, como aprendemos a gostar delas. O meu texto sobre o formato da primeira temporada de Once Upon a Time tem um pouco disso, mas com a estrutura narrativa da série em vez dos personagens.
Então dependendo de como é feito o soft reboot, os fãs do original podem se revoltar, porque as coisas estão diferentes, a história não era assim. Alguns exemplos são Jurassic World e a trilogia nova de Star Wars.
Aliás, como esses dois exemplos devem ter deixado claro, na maioria das vezes esse tipo de soft reboot acontece por uma única razão: dinheiro. A história já deu o que tinha que dar, mas vamos continuar ela, porque está dando dinheiro, então vamos mudar algumas coisas em vez de acabar.
E assim... tecnicamente é uma estratégia empresarial que não se importa com a história sendo contada, afinal é geralmente tomada pelos executivos que não se importam com a obra, e não pelos artistas. Mas a verdade é que eles têm artistas trabalhando para eles, e esses artistas podem fazer essas decisões não-artísticas funcionarem; transformá-las em decisões artísticas, justificando-as ao bolar histórias boas. Acho injusto dizer que todo soft reboot é ruim por ser, em geral, uma decisão empresarial, quando todos os filmes e séries de empresas grandes são, afinal. Tudo lá existe pra arrecadar dinheiro, mas então vamos torcer para os artistas conseguirem fazer algo bom com isso.
Fora que, como espectador, é uma decisão que eu acho interessante. Porque afinal, toda história, se esticada demais, começa a andar em círculos. Once Upon a Time começou, e muito. Mas ao mesmo tempo, se é uma obra que gostamos e não precisamos nos despedir daquele universo ainda, que bom. Deem um fim para essa trama específica, e continuem de uma nova maneira. Assim dá para fazer as duas coisas: dar um final quando se está precisando, mas continuar com aquele universo que você gosta tanto, se ainda tem mais coisa boa pra mostrar.
O importante é ficar com a mente aberta para esses soft reboots. Porque pode acontecer de ser péssimo, mas não por ter mudado, e só porque foi ruim mesmo. Esperar que seja tudo como era antes é ser ingênuo e criar expectativas que o novo trabalho não prometeu – assunto que eu comentei nesse texto aqui.
Não faz sentido querer a sua história antiga de novo, ela acabou, mas elementos dela estão de volta. O que devemos fazer com soft reboots é celebrar o que ela manteve do que veio antes, mas abraçar suas novidades, porque afinal, se era pra ser a mesma coisa, era só ver o original, ué.

Inclusive, um parênteses rápido para falar de uma obra que é um exemplo de ambas as situações. Eu ainda não li o último livro da série, então pode ser que o que eu vou falar tenha sido consertado lá, mas pra mim a segunda trilogia da série Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children está sofrendo com sua qualidade ao tentar replicar elementos da trilogia original, rejeitando o que tinha trazido de novo.
No primeiro livro da nova trilogia, A Map of Days, fomos apresentados a novos vilões, e a todo um novo cenário. Enquanto nos livros originais exploramos o mundo peculiar na Europa, agora visitávamos os peculiares estadunidenses, organizados de maneira muito diferente dos europeus, divididos em clãs que vivem em conflito, configurando-se assim em um enredo muito menos maniqueísta do que o da trilogia original.
Mas aí no segundo livro, The Conference of the Birds, surpresa! Os vilões originais estão de volta! Eles estavam orquestrando tudo desde o começo e agora sua ameaça para o mundo voltou! Já os clãs americanos? Eles têm uma participação mínima e, ao contrário do que A Map of Days prometeu, é muito fácil apaziguar os ânimos entre eles. Inclusive o chefe mais feroz dos três, que quase tinha executado os protagonistas no último livro, é o que mais está de boa com o acordo de paz. Ainda espero que isso mude no último livro, mas não tenho tanta certeza. (Torcendo pra eu acabar pagando a língua.)
Pareceu muito que a série começou tentando trazer coisas novas, abraçando o fato de que era um soft reboot, usando os personagens antigos para explorar uma nova parte daquele universo. A Map of Days justifica sua existência, trazendo coisas novas. Já The Conference of the Birds? Eu gostei muito do livro, mas ele imediatamente desfaz tudo o que o anterior prometeu, voltando a se apoiar na história da primeira trilogia, e se recusando a explorar mais as novidades.

Fim do parênteses. Voltando a Once Upon a Time. Ao contrário de Peculiar Children, o soft reboot da série conseguiu equilibrar os elementos novos e antigos muito bem. Ainda víamos alguns personagens antigos e a premissa era literalmente a mesma, mas os personagens novos tinham novas tramas, novas relações, o que permitiu que a temporada fosse ao mesmo tempo parte da série e algo novo.
E mesmo que o reboot tivesse sido péssimo (não foi), ele era necessário. Porque, já há algumas temporadas, o enredo de Once Upon a Time andava em círculos. Era um dos maiores problemas da série, a história parecia ter acabado em meados da terceira temporada e a partir daí o enredo não ia pra frente, nada importante acontecia, tudo andava em círculos mesmo. Afinal, todos os personagens já haviam concluído seus arcos e agora só estavam vivendo aventuras aleatórias que não importavam.
Sério, tirando o nascimento de alguns bebês e uma única morte, os personagens principais estão todos na literal mesma situação de vida no final da terceira e no final da sexta temporada. Três temporadas, e todos os acontecimentos significativos podem ser resumidos em menos de uma linha! A única que teve mudanças importantes foi a Zelena... que foi introduzida na metade final da terceira temporada e ficou ausente na maior parte da quarta.
Tudo, absolutamente tudo, andava em círculos. Duas vezes por temporada, chegava à cidade um vilão, quase sempre parente de um dos protagonistas (podendo ser o pai do Rumplestiltskin, a irmã da Regina, a ex quase mãe adotiva da Emma, os protagonistas em si, o nunca mencionado antes antigo interesse amoroso da Zelena, a parte má da Regina ou a mãe do Rumple). Eles passavam dez episódios tentando conseguir alguma coisa, geralmente lançando uma maldição – na maior parte das vezes, a mesma que Regina lançou no primeiro episódio –, e por fim eram derrotados pelos protagonistas para que o ciclo reiniciasse.
Já os arcos dos personagens? Andavam em círculos mais até mesmo do que o enredo.
Emma aprendeu a confiar nas pessoas e a abaixar seus muros na 3A, na 3B, na 4A, na 5A e na 6A.

Regina provou que mudou e que pode ser uma boa líder na 3B, na 4B, na 5A, na 6A e na 6B.

Rumple se redimiu na 3A, voltou a ser vilão na 4A, se redimiu na 5A, voltou a ser vilão no mesmo arco, e se redimiu de novo na 6B.

Um segredo do Hook veio a tona e ele aprendeu a não escondê-lo na 3A, na 3B, na 4A, na 4B, na 5A, na 6A e na 6B.

Tudo em círculos!
Ah, e enquanto isso, Belle, Henry, Snow e David ficavam sem nada pra fazer.
Era literalmente a mesma coisa sempre. E eu gostava, não vou mentir, mas não posso dizer que era tudo bom. A série sofria de uma séria falta de qualidade desde a segunda temporada, e os arcos em círculos que não levavam a nada eram parte do problema.
Isso até a requel. Porque com personagens novos, um cenário novo, a saída de vários personagens, e os antigos ganhando novos arcos, finalmente a roda voltou a girar. O enredo passou a andar para frente, trazendo novidades significantes a cada episódio, porque afinal, aqueles novos elementos ainda tinham muito pela frente. Não duvido que, se a série tivesse durado mais, tudo voltaria a estagnar, mas ainda demoraria mais umas duas temporadas, pelo menos.
De todos os problemas de roteiro de Once Upon a Time, um dos maiores foi consertado pela sétima temporada. A história não ficou pior como dizem: em pelo menos um dos aspectos técnicos, ela melhorou muito.
E não foi só nesse aspecto. Pode ser porque os anos de estagnação pioraram a imagem deles para mim, mas eu nunca gostei de Emma, Snow, David tanto quanto eu gosto de Tiana, Rapunzel, Alice, Drizella e do Henry adulto. Nenhum deles foi tão interessante ou carismático quanto os novos, por mais que eu gostasse. Os personagens da sétima temporada trouxeram um ar fresco à série, e uma história incrível.
O formato da primeira temporada voltou, pelo menos por alguns episódios, com algumas histórias focadas em problemas do dia-a-dia no presente, e um conto de fadas sendo brilhantemente adaptado nos flashbacks. O que dizer das adaptações do conto do príncipe sapo, com o personagem-título na verdade sendo um sapo transformado em humano e não o contrário, e do conto da Rapunzel, com a protagonista virando a madrasta da Cinderela? E há quanto tempo eu não via a série focar em coisas tão simples como duas amigas tentando arranjar dinheiro e abrindo seu próprio negócio, ou Henry tentando decidir se deve aceitar uma proposta de trabalho? Que saudades desse tipo de história, totalmente abandonado pelas temporadas 2 a 6.

O romance de Alice e Robin e a complexidade de Drizella – geralmente mencionados pelos fãs como “as únicas coisas que valeram a pena na temporada” – também são ótimos, mesmo eu achando que muitos falam bem deles em comparação com outros elementos parecidos, como o romance de Henry e Jacinda e a vilania de Victoria, que para mim são muito bons também.
Sem contar o maior feito da temporada: fazer todo mundo esquecer o quão abusivo Rumple e Belle tinham se tornado nos anos anteriores e transformá-los no melhor casal de toda a série, em um dos melhores episódios de todos, inspirado em Up!
Sem contar as várias histórias que foram interrompidas pelo cancelamento da série, que tiveram um fim apressado por causa disso, mas que tinham potencial e pareciam levar a algo legal – como a de Facilier e Regina, que parecia prometer algo interessante mas que infelizmente não levou a nada, por falta de tempo.
Além do mais, o tempo em que ficamos longe de Storybrooke e de seus personagens causou um dos melhores sentimentos no último episódio, quando Alice e Robin vão recrutá-los para ajudar na batalha, em uma cena brilhante que abre o series finale em uma mistura de velho e novo, trazendo a nostalgia do original e a beleza do requel.

Eu amo essa temporada! E me irrita o fato de eu nunca poder ver uma discussão legal sobre ela porque o pessoal passa pano pros milhões de problemas das anteriores enquanto procura pelo em ovo pra xingar ela só porque as coisas mudaram!
Não que eu ache a sétima temporada perfeita, muito longe disso. Ela ainda tem todos os defeitos das temporadas 2 a 6, com exceção da história estagnada. Então ainda temos:
Vilões que mudam de plano a cada episódio.

Linhas do tempo extremamente complicadas e sem sentido.

Histórias que trazem várias promessas e não cumprem.

Zero preocupação em manter a consistência com eventos anteriores.

Falta de explicação de elementos do enredo.

Então sim, teve vários problemas. Vários, mesmo. Mas todos esses problemas já existiam desde 2012. A única diferença das temporadas 2 a 6 para a sétima é que agora um deles foi consertado (a estagnação da trama) e que os personagens novos se mostraram muito mais carismáticos. E é por isso que, tirando a primeira, claro, a sétima temporada é a melhor de Once Upon a Time. E a mais injustiçada por fãs que se recusam a aceitar mudanças.
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